sexta-feira, 18 de setembro de 2009




Em 1970, a razão da minha pouca existência era um nanico tagarela que, com um charmoso sotaque italiano e jeitinho dengoso, conquistava todas as menininhas da minha idade.
Ele era lindo! Tinha 20 centímetros de altura, orelhas enormes, uns três ou quatro fios de bigode e usava calça vermelha, camisa branca, gravatinha borboleta azul e sapatos pretos. Completava o visual com suspensórios, também azuis, e um bonezinho amarelo. Para dormir, vestia uma sensual camisola branca, e uma touquinha com pompons. Um pão! Seu nome, Topo Gigio.Topo Gigio era um simpático e falante ratinho por quem eu era completamente alucinada! Nunca fui uma criança tímida, ao contrário, era bem espevitada, passava o dia inteiro aprontando enquanto esperava a hora do meu namoradinho camundongo chegar. Minha mãe agradecia a Deus quando ele aparecia na televisão, sempre risonho, dançando e cantando sem parar, só assim eu dava um pouquinho de sossego, dizia ela.Foi assim que a música entrou na minha vida. Lembro até hoje do Topo Gigio, com uma faixa na testa, a lá Simonal, cantarolando 'meu limão, meu limoeiro, meu pé de jacarandá, uma vez tindo lelê, outra vez, tindo lalá...'. Eu tinha certeza absoluta de que o Simonal era algum amigo muito íntimo dele. Talvez primo, sei lá...- Não, espera... não pode ser, não existe primo adulto, pensava. O Simonal é muito grande, deve ser tio do Gigio. Ou avô, quem sabe? Ah, não importa, se ele é amigo do meu namorado, é meu amigo também. Eu só não entendia por que o Simonal imitava o Topo Gigio...Um dia, sem mais nem menos, os caras lá do Pasquim cismaram com o ratinho, disseram que ele era gay porque balançava a perninha e pedia beijinho para o Agildo Ribeiro. A solução foi arrumar uma namorada famosa para provar que ele era um rato de verdade, rato com R maiúsculo! A escolhida foi, ninguém mais ninguém menos que a própria 'namoradinha do Brasil', a Regina Duarte, que virou Rosita, minha rival. Mas, eu não senti ciúme, não. A verdade é que eu até gostava dela. Mas, o truque não deu certo. De novo, o Pasquim pegou no pé do Gigio com uma conversa esquisita de que ele era bissexual. Claro, o Gigio não gostou nem um pouquinho da brincadeira. Ficou muito magoado e, dali a uns tempos, resolveu ir cantar noutra freguesia. Jogou uma trouxinha nas costas, olhou no fundo dos meus olhos e cantou 'adeus amor, eu vou partir, pra bem longe daqui...'. Foi embora para sempre, nunca mais voltou.
Por Meire Bottura

Um comentário:

  1. Olá! Cheguei a essa página por acaso e, para a minha grata surpresa, dei de cara com o meu texto... adorei!
    O Topo Gigio marcou demais a minha infância. Eu era tão apaixonada por ele que, durante um bom tempo, o meu apelidinho era justamente esse - Topo Gigio.

    Abraços, felicidades e ótimo 2010!

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